Absurdo americano
Acesso a armamento pesado causa massacre no Texas e protesto no Brasil
Medo. Massacre. Fuzil.
Acontece de novo.
No Texas, desequilibrado entra numa escola e mata 21.
Em seu gabinete, o capitão Morretes balançava a cabeça.
–Que absurdo.
Ele acendeu o primeiro cigarro do dia.
–Esse tipo de coisa não faz sentido nenhum.
De fato.
O que leva um jovem a chacinar alunos e professores?
Morretes respirou fundo.
–A questão não é essa.
Ele foi até a janela.
–É uma injustiça tremenda isso aí.
A manhã emergia das águas poluídas da Guanabara.
–Nos Estados Unidos, um carinha desses compra fuzil de boa qualidade.
Era amarga a sua constatação.
–E nós aqui? Ficamos sem nada?
Há tempos ele pedia armas novas para a corporação.
–Tenho de comprar semi-automática do meu próprio bolso?
Por sorte, ele tinha contatos na milícia.
–Importação direta.
Ele esmagou o cigarro no cinzeiro de caveira.
–Isto aqui é a Ucrânia, pô. Ninguém se engane.
Morretes fazia as contas.
–Lá, matam uns vinte com a maior facilidade.
Ele arrumou melhor a farda e o boné.
–Aqui, a gente mata um grupinho de pilantras e parece que o mundo vai acabar.
Morretes pisava firme sobre as tábuas da repartição.
–É muita humilhação.
Ele ligou no ramal dos transportes.
–Hora de fazer meu protesto.
A operação iniciou-se em menos de uma hora.
–Vamos de novo para a Vila Cruzeiro.
Objetivo: intensificar a inteligência no local.
–Esses americanos vão ver. Vinte e um, vinte e dois… isso é ninharia.
Ele voltou aliviado. E logo elaborou o relatório.
–Com o nosso arsenal, sem dúvida superamos as expectativas.
Ao longe, o Cristo Redentor não dizia nada.
–Texas. Bela porcaria. Bando de amadores.
Polícia e exército mantêm suas tradições.
Acima de tudo, trata-se de agir de modo profissional.