ESCÂNDALO NO MEC
Bolsonaro avisou o que faria com o Ministério da Educação
Por Bernardo Mello Franco
30/03/2022 • 04:30
Jair Bolsonaro declarou que botaria a “cara no fogo” pelo ministro da Educação. Quatro dias depois, decidiu rifá-lo do governo. O pastor Milton Ribeiro não caiu por defeitos novos. Sua demissão é uma tentativa de aliviar as queimaduras na imagem presidencial.
As denúncias no MEC chamuscaram um dos pilares do discurso bolsonarista: a mentira de que o governo é imune à corrupção. O escândalo começou com suspeitas de tráfico de influência. Em poucos dias, descobriu-se a existência de um balcão de negócios na pasta.
Dois pastores ligados ao ministro foram acusados de cobrar propina para agilizar a liberação de recursos. Um prefeito contou que o pedágio podia ser pago com um quilo de ouro (cerca de R$ 300 mil na cotação atual).
A revelação das negociatas deu início a um festival de hipocrisia. A bancada evangélica, que indicou o ministro, passou a exigir sua cabeça. O pastor Silas Malafaia, que orava de mãos dadas com Eduardo Cunha, fez discurso indignado contra a corrupção.
No último dia no cargo, Ribeiro finalmente confessou uma heresia. Admitiu ter autorizado a produção de Bíblias com sua foto, distribuídas pelos pastores citados no esquema.
Na carta de despedida, o ministro negou outros pecados que poderão ser julgados pela Justiça dos homens. Citando o nome de Deus, ele se disse interessado numa investigação “com profundidade”. Em seguida, tentou reescrever a história da própria demissão.
“Minha decisão decorre exclusivamente de meu senso de responsabilidade política e patriotismo”, afirmou. A frase contém duas falsidades. A decisão foi de Bolsonaro, e Ribeiro não caiu por ser responsável ou patriota.
O pastor também jurou fidelidade ao presidente, por quem disse ter “respeito” e “gratidão”. Ele deixa para trás uma pasta arrasada, que terá o quinto ministro desde o início do governo.
A corrupção é só uma face da crise na Educação. Antes de virar caso de polícia, a pasta já havia sido sequestrada pela guerrilha ideológica e submetida ao aparelhamento religioso. Na campanha de 2018, Bolsonaro disse que gostaria de invadir o prédio do MEC com um lança-chamas. Quatro anos depois, deixará a pasta reduzida a cinzas. Ninguém pode dizer que ele não avisou.