O tiro e a fumaça
Na campanha eleitoral, conseguir apoio dos mais pobres exige estratégia militar
Violência. Radicalismo. Desrespeito.
Em tempo de campanha eleitoral, isso nem sempre dá certo.
O famoso marqueteiro baiano Lourival Lorotto estava pronto para ajudar.
–Nosso candidato é bom. Excelente. Imbatível.
Ele dava um suspiro.
–Mas precisamos aparar algumas arestas.
Lourival consultava as planilhas.
–Negros. Nordestinos. Mulheres.
A manhã ia avançando no escritório eleitoral.
–Vamos melhorar um pouco isso aí.
O uísque importado ajudava a criatividade.
–Fazer uns clipes. Umas filmagens.
O telefone foi acionado sem hesitação.
–O candidato pode visitar alguma comunidade pobre?
–Onde? Aqui em Brasília mesmo?
–Melhor no Rio… ou em Recife.
A agenda do palácio era flexível.
–Ótimo. Ele chega lá de helicóptero.
Câmeras. Microfones. Refletores.
–Põe ele abraçando um pessoal aí.
–Já chamei uns apoiadores.
–Não. Esses são meio branquinhos.
O adolescente Robinson foi contatado.
–É negro mesmo. E apoia o homem.
–Fantástico. Pode gravar.
Robinson subiu no palanque com muita fé no Brasil.
Quatro tiros de pistola atingiram o jovem entusiasta.
O miliciano Wardy pede desculpas.
–Escurinho daquele jeito… pensei que era assaltante.
Lourival se encarregou de dar um jeito.
–A gente diz que era atentado contra o candidato.
–Certo.
–E que o terrorista errou o alvo.
–Vamos nessa, Lourival.
O comitê aguarda o resultado das pesquisas.
Tiros são comuns nas periferias do Brasil.
O problema, por vezes, é como produzir mais fumaça.