POR QUE BOLSONARO ERROU AVALIZANDO TRUMP – JOSIAS DE SOUZA – BLOG DO JOSIAS
Em política, tudo é permitido, exceto deixar-se surpreender. Na crise que
eletrifica as relações entre Estados Unidos e Irã Jair
Bolsonaro revelou-se, uma vez mais, um governante com duas
características bem marcantes: ele não hesita em exibir a satisfação que sente
por estar no volante. Mas passa frequentemente a impressão de que não dispõe de
um itinerário. A exemplo do que ocorreu em tantos outros episódios, Bolsonaro
entrou nessa encrenca na contramão do interesse nacional.
A fumaça do ataque aéreo com drone que fulminou o general do Irã Qassem
Soleimani ainda não havia se dissipado quando o Itamaraty divulgou uma nota
apoiando incondicionalmente a ação ordenada por Donald Trump. O texto firmado
pelo chanceler Ernesto Araújo com o consentimento de Bolsonaro não se limitou a
avalizar a decisão da Casa Branca. Tratou a execução do comandante da unidade
de elite da Guarda Revolucionária do Irã como parte da luta contra o
“flagelo do terrorismo”.
O contencioso que envenena há décadas as relações de Washington com Teerã
comporta interpretações complexas. Mas o papel do Brasil nesse contencioso é
simples como o ABC. A, o Brasil tem negócios com o
Irã que rendem ao país mais de US$ 2 bilhões ao ano. B,
embora superavitária, a balança comercial brasileira registrou em 2019 uma
queda de 19,6% em relação ao ano de 2018; C, às voltas
com a necessidade de potencializar o crescimento de sua economia interna, o
Brasil não pode se dar ao luxo de jogar contratos de exportação pela janela.
Surge, então, a pergunta de US$ 2 bilhões: o que ganha o Brasil com o apoio
do governo Bolsonaro à ação militar ordenada por Trump contra o Irã? A resposta
é, novamente, simples: Nada. O regime de Teerã cobrou explicações da diplomacia brasileira. Em
reação, Bolsonaro disse que aguarda a chegada do chanceler Ernesto Araújo do
recesso para decidir o que fazer. A equipe do ministério da Agricultura e o
agronegócio brasileiro tremem ao perceber que, na briga entre Estados Unidos e
Irã, o governo brasileiro ataca o interesse nacional.